Swift

Garota do bar




 Sentada num pub, às 20 horas da noite, estava eu, com uma caneca de chopp, meu caderninho de anotações o qual uso para escrever mais uma música sobre as pessoas que vejo e me intrigam, com uma caneta entre meus lábios ressecados e os olhos atrás de uma armação grossa e redonda observando um casal discutindo numa mesa logo a frente, algo como ele ter saído do banheiro logo após uma mulher, isso era como uma rotina, observar as pessoas e seus comportamentos, muitas vezes, primitivos.
     Uma banda toca um cover de Wish you were here do Pink Floyd do outro lado do estabelecimento. Pesquei uma das batatas que estava no prato em cima da minha mesa e voltei meu olhar para uma garota, de mais ou menos uns 17 anos, e aparentemente feliz, ou talvez estivesse apenas bêbada, dançando com um grupo de amigas claramente mais velhas que ela, que não pareciam se importar com isso. Ela sorria, e bebia, e dançava como se nada mais a preocupasse, e era a verdade. Nada mais a preocupava ali, naquela pista de dança. Naquele momento ela não tinha medo de nada, o que pelo menos por um instante a fez diferente da maioria das pessoas.  
     Nós, seres humanos, temos um grande problema com o medo, muitas vezes não o assumimos nem para nós mesmos, mas de alguma forma ele sempre fez parte de nós. Quando eu era criança eu tinha medo de escuro e da descarga, isso mesmo, da descarga, aquela que leva nossas “necessidades” para o esgoto. O escuro, em alguma de minhas leituras reavaliei pelo que um autor disse “nós não temos medo do escuro, mas sim do que há nele, nós temos medo do desconhecido”. E nunca li tão profunda verdade. Eu nunca tive medo majoritariamente do escuro, mas o fato de o escuro me privar da visão, me deixando primeiramente à deriva, ocultando-me o que há ao meu redor e o que pode acontecer me amedrontava, me fazia perder o sono, me fazia colocar minha cama encostada na parede de um lado para que eu dormisse com o rosto virado para o outro e “monstro”, ou seja lá o que pudesse me acontecer não pudesse me pegar de surpresa. E talvez o “monstro” fosse outra representação do medo, mas isso vamos deixar para outra divagação. 
     De toda forma, a descarga também não era exatamente o motivo do meu medo, tudo começou quando eu morava no interior, meus pais não me deixavam ver filmes de terror, e eles tinham motivo, mas um dia, os dois e minha irmã foram ver um filme, o qual não me recordo o nome, e me mandaram ir para a cama dormir, eu fiquei muito irritada, afinal, porque eu não poderia participar daquele momento familiar, então me escondi atrás do sofá e vi o filme. A primeira e grande burrada da minha vida, a primeira de muitas, devo admitir. Naquele momento, eu fiquei traumatizada pelo resto da minha vida. Como uma boa criança medrosa, que ainda tinha um pinico em baixo da cama, a cena em que um monstro horrível saia de dentro do vaso enquanto uma moça dava descarga nunca saiu da minha mente, e a partir daí tudo que eu fazia era dar descarga e sair correndo, encostando nas paredes para evitar que ele surgisse por trás, isso seguiu por anos a fio, até que se tornasse motivo de piada ao ponto de eu ter vergonha do meu medo e fingisse que não estava verde por dentro quando tinha que dar descarga sem demonstrar meu desespero. 
    Eu acreditava que este medo ainda não iria passar, e eu estava certa, foi apenas reprimido, contudo o medo real não era do bicho do vaso sanitário e sim do desconhecido, do imprevisível, do inevitável, do “grande” monstro que nós transformamos a vida antes mesmo de vive-la. A vida adulta chegou, e os medos ainda estão aqui, não mais no escuro ou dentro do meu vaso sanitário, mas o meu medo hoje está na forma de tudo que me cerca, e na falta de controle nas coisas que estão no meu redor. 
   Então é bom ver, uma garota, de mais ou menos uns 17 anos, e aparentemente feliz, ou talvez estivesse apenas bêbada, dançando com um grupo de amigas claramente mais velhas que ela, que não pareciam se importar com isso. 
Ela sorria, e bebia, e dançava como se nada mais a preocupasse, e era a verdade. 
Nada mais a preocupava ali, naquela pista de dança. 
Naquele momento ela não tinha medo de nada. 
Eu só queria não ter medo de nada. 
Eu queria sorrir 
Beber 
E dançar. 

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4 comentários

  1. Que texto legal! Tu escreve muito bem :3
    É muito bom ter momentos em que esquecemos todos os problemas e todos os medos, certo? Essas coisas sempre vão fazer parte da gente, mas às vezes precisamos de só sorrir, beber e dançar!
    Beijos!!
    seessemundofossemeu.blogspot.com

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    1. é difícil esquecer os medos e quando conseguimos é tão bom :) Obrigada pelo elogio rainha das referências <3 bj

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  2. Que lindooooo! Sabe o que me lembrou? A música Natasha da Capital Inicial <3
    Esse textinho me inspirou aqui, viu?

    Beijão,
    Próxima Primavera

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    1. AAAAAAAA essa música do Capital é maravilhosa dms <3 inspirou? já quero saber os results disso
      bjs

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Meu nome é Stéphanie Karoline, 18 anos, moro no interior de Pernambuco e estudo Comunicação Social na UFPE.
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