Swift

Estática


Parada.
Eu estou parada na mesma posição fazem exatos 37 minutos. E tudo o que eu penso é que quero permanecer assim.
Cinco gotas.
Cinco gotas de água caíram no meu colo nos primeiros três segundos parada na mesma posição, mas eu não me mexi para ver o que era.
Pensando no quê? Em como certas mudanças ferem a nossa alma.
Há exatos quatrocentos e oitenta e quatro dias eu me instalei numa nova moradia. Há exatos 2.170,5 km de onde eu morava antes, 27 horas de casa. Deixei amigos feitos que nunca imaginei que teria, deixei um pré-relacionamento promissor, deixei o meu cafofo azul, deixei meus livros, deixei minha casa. E tudo o que tive comigo foram a minha família e as minhas roupas. Eu não queria ir, mas quando minha mãe perguntou se eu ficaria, eu sabia que aquilo não era uma opção. Precisávamos ir. Então fui. Metade do coração na casa, e a outra metade na mão.
Quatrocentos e oitenta e quatro dias eu me instalei numa nova moradia. Conheci novas pessoas, vi novos lugares, vivi uma nova vida. Não foi uma escolha minha. Foi um decisão necessária. Mas hoje, dia 16 de abril de 2017 eu choro sem poder me conter em mim, um dia antes do aniversário da minha melhor amiga, quatro dias antes do aniversário da minha amiga de infância. E 198 dias após o meu aniversário de 18 anos que eu passei anos planejando com elas. Nós ainda conversamos, diariamente, e muitos dos amigos que tive, ainda os tenho. Mas é horrível, a sensação de se perder algo importante, de não estar lá, de não poder estar lá até nos momentos mais bobos como ver um filme com a turma. é como se você se imaginasse dentro de uma caixa de vidro enquanto todos se divertem do lado de fora e ninguém pode te tirar de lá então continuam a viver. Você tenta viver dentro da caixa também, com o que tem lá, mas a cada minuto você olha para o lado de fora e pensa como lá deve estar mais divertido.
Eu me mudei algumas vezes, e o meu maior erro foi ter deixado metade do meu coração para trás.
Saudade é como estar estática, no mesmo lugar, sentindo o impacto de mil espinhos nas costas e vendo o mundo girar ao redor da caixa de vidro, enquanto a caixa permanece estática.
Não me arrependo da vinda. Jamais. Vivi coisas necessárias para o meu crescimento pessoal e vivi momentos em família que não serão refeitos. Mas ainda sim eu estou:
Parada.
Centenas de gotas.
Por Stéphanie Araújo

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Meu nome é Stéphanie Karoline, 18 anos, moro no interior de Pernambuco e estudo Comunicação Social na UFPE.
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